Assim ela já vai


Tudo que ela precisava era se apaixonar.

Por algo, por alguém, por qualquer coisa. Sua vida estava vazia mesmo cheia de gente. E a rotina já era chata demais para não ter paixão. Os passatempos não faziam mais o tempo passar.

Ela estava cansada.

No mesmo horário de todo santo dia, levantou da cama, fez automaticamente toda sua sequência, nessa mesma ordem: escova dente, toma banho, pega a primeira roupa do armário, engole um pão e sai correndo pro ponto. Ela nunca se atrasa, mas não se pode dizer o mesmo do maldito ônibus. Como sempre, lotado.

Sem lugar pra sentar, ela se escora no banco alheio e fecha os olhos. Está acordada de olhos fechados, ou vice-versa. De repente, numa freada brusca, alguém deixa sua pasta cair sobre ela. Como numa cena de filme, os dois se abaixam - bem perto um do outro porque não tinha outro jeito com tanta gente ao redor - pra pegar os papéis. Se entreolham, dão aquele sorrisinho sem graça, dizem um oi quase que de impulso. É difícil se mexer em meio aquele mar de gente em pé, que parece nem perceber que algo está prestes a acontecer ali.

Ela levanta, mas seu olhar continua olhando pra baixo de tanta vergonha. Ele, não consegue tirar os olhos dela. Como numa fração de segundos, ela tem que descer. Ele também. Exatamente no mesmo ponto de todo santo dia. Como não se viram antes?

É, isso é difícil responder, mas pelo papo apressado que teve início naquela manhã corrida, eles teriam muito tempo pra tentar decifrar o que causou aquele delicioso encontro casual.

Tudo que ela precisava era se apaixonar. Talvez tenha chegado a hora.

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